Luto Vó – Como lidar com a perda matriarca

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O luto vó é semelhante ao processo de perda dos pais. Sendo que, muitas vezes, traz à tona a vulnerabilidade da vida. Afinal, são indivíduos que, quando os mais jovens nascem, já são adultos e (em alguns casos), estão na terceira idade.

Na psicologia, existem outras questões importantes que surgem com o adoecimento dos mais velhos. Já que esses formam o principal núcleo familiar, o mais antigo elo de sangue. Justamente por isso, não é incomum que a perda desestabilize os familiares e, muitas vezes, causem a ruptura no contato.

Luto Vó

A partir disso, aqui vamos apresentar não apenas a importância desses indivíduos nas famílias, mas as principais dificuldades que surgem com o adoecimento/morte e como lidar com a perda da matriarca.

Matriarca: a importância e impacto dessa estrutura

O termo matriarca faz referência à mulher ou mãe. Neste aspecto, muitas sociedades seguem um estilo matriarcal, onde essas mães são o poder, aquelas que regem os demais.

É importante destacar que essa perspectiva surge, conforme Bachofen, pela ideia de que a sociedade só é capaz de existir a partir da maternidade. Afinal, sem mães, os novos indivíduos não existiriam.

Contudo, outras questões surgem nesse mesmo aspecto, envolvendo a religião e a moral, por exemplo.

De qualquer maneira, as avós são o esteio familiar, garantindo a manutenção dos relacionamentos familiares e até auxiliando na resolução e dissolução de conflitos.

Mesmo que não seja uma regra, é comum que muitos só continuem se encontrando em datas festivas, por exemplo, porque essas mulheres querem que isso aconteça. Um quadro onde a vontade e o bem-estar dessas pessoas se sobrepõem ao desejo de terceiros, brigas e desagrados.

Ao mesmo tempo, não dá para negar que as avós, geralmente, ocupam um espaço de “segunda mãe” na vida dos netos. Isso costuma acontecer porque, ao nascer, as avós passam a ver aquele indivíduo como a continuidade familiar, um espelho do núcleo e alguém que exige cuidados específicos.

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Com isso, recebem tudo aquilo que precisam. Também não é incomum que os netos recebam mais coisas das avós que dos próprios pais. Como um direito dos mais velhos em mimar os mais jovens.

De qualquer maneira, as avós podem atuar de diversas maneiras. Desde educando e mimando, até oferecendo ensinos e conhecimentos essenciais, auxiliando no caminho e trazendo coisas que outros não poderiam oferecer. Estando mais tempo na história da vida, são dotados de experiências que outros ainda vão viver.

Luto vó: como lidar com a perda matriarca

Diante de toda essa relevância matriarcal na vida dos que ficam, a dúvida é como lidar com a perda dessa mulher.

Neste cenário, a perda da matriarca pode ter diferentes significados, trazendo diversas vivências à tona. A maioria delas, desconhecidas até então.

Quando há conflitos entre os irmãos, por exemplo, a perda pode tanto aproximar quanto afastar ainda mais esses. Já que não há mais o grande elo que os “obrigava” a manter a união sempre que possível.

Como resultado, muitas famílias acabam se afastando, o que é prejudicial e até confuso para os mais jovens, que não entendem o motivo de tantas mudanças em tão pouco tempo.

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Além disso, a situação mostra como há uma limiar entre o estar bem e deixar de estar. Isso costuma acontecer com os mais jovens, que ainda não possuem uma grande compreensão sobre perda e morte.

Imagine, por exemplo, a sua história. É provável que, quando você nasceu e começou a crescer, seus avós já não fossem tão novos assim. Geralmente, possuem em torno de 50 anos. Logo, quando você chegar aos 30, eles terão 80.

A questão é que não percebemos essa passagem de tempo nos mais próximos, inclusive nos nossos pais. É quase como se eles estivessem sempre iguais, mesmo que a aparência tenha mudado um pouco. Logo, não nos damos conta do quanto eles realmente envelheceram e que, pela ordem natural da vida, eles partiram mais cedo que nós.

Como lidar com o luto vó  

O luto vó depende de uma série de questões, inclusive a forma como você foi criada, as relações que tinha com essa matriarca e a sua perspectiva sobre perda.

Portanto, lidar com isso envolve respeitar as fases do luto, entender a real importância daquela mulher na sua vida e o que será diferente a partir de agora. A partir disso, existem alguns processos que podem ajudar:

Entenda e respeite o seu luto

Sentir por alguém que partiu é essencial.

Afinal, aquela dor é só sua. Onde cada um sente e vive de uma maneira aquela perda. Logo, exige respeito e tempo, independentemente da maneira como é vivenciado. Salvo quando isso começa a se tornar um problema real, que o impede de passar para outro estágio.

Por exemplo, inicialmente, é natural tentar negar tudo o que aconteceu, sentir raiva e uma tristeza profunda. Mas quando essa tristeza começa a prejudicar coisas simples, como sair de casa em datas importantes, se alimentar, tomar banho e mais, procure um profissional.

Mas, respeite e sinta essa dor. Ao tentar passar por cima de tudo, você pode acabar internalizando essa perda que, futuramente, trará outros desafios.

Converse com outras pessoas sobre a matriarca

Uma maneira de tentar lidar com o luto vó é falar sobre ela com outras pessoas que também a amavam e admiravam. Dessa maneira, vocês podem compartilhar bons momentos e memórias.

Essa tática é indispensável a longo prazo, fortalecendo vínculos familiares e evitando que se torne um assunto tabu. A realidade é que, mesmo que ela tenha partido, vocês ainda podem falar sobre ela, preparar receitas comuns da família, se encontrar nas datas festivas e aproveitar isso ao máximo. Por vocês e pela memória dela.

Evite o isolamento

O isolamento é um dos principais problemas do luto.

Em suma, com a dor da perda, é natural que você não tenha vontade ou até energia para se dedicar a outras pessoas. Com isso, deixa de ir a festas em geral, reuniões ou mesmo sair para espairecer.

Porém, com o isolamento, eleva-se às sensações de finitude, trazendo pensamentos ainda mais tristes ou até mórbidos.

É importante pensar que, mesmo a morte sendo inevitável, a vida merece e precisa ser vivida. Então, evite se isolar demais, converse com pessoas que entendam o que está passando e mantenha aqueles que são importantes sempre por perto.

Entenda que superar é diferente de esquecer

Lidar com o luto, muitas vezes, causa o sentimento de que, ao fazer isso, estará esquecendo da matriarca. Algo que não é real.

Ao contrário disso, superar significa entender o que aconteceu, que não há volta e que é preciso viver com aquela mudança, se adaptando a ela e ao que isso tudo significa.

Na prática, é a fase final dos estágios do luto, quando a lembrança persiste, mas a dor é amenizada. Entender isso evita que você fique remoendo tudo o que aconteceu. Uma situação que pode levar à ansiedade, estresse, depressão e alterações no sono.

Inclusive, se faz uso de qualquer remédio, seja para dormir ou outros, converse com o seu médico sobre o assunto. Podendo ser necessário uma alteração na dosagem.

Quanto tempo dura o luto de uma pessoa?

O tempo de luto é relativo.

Portanto, cada indivíduo pode passar por aquele período de uma maneira, da sua forma e em períodos completamente distintos.

Não é incomum que em uma mesma família, por exemplo, cada integrante compreenda o luto vó de uma forma. Alguns ficam alguns dias em resguardo, mas depois voltam à rotina comum, outros passam semanas e meses.

Em alguns casos, a sensação principal de perda não passa por anos, mesmo quando o sujeito volta a sua rotina e vive normalmente. Mas ainda sente aquela perda. Isso é natural quando há uma ligação muito próxima e importante com a avó.

Dessa forma, não existe uma determinação de tempo. No geral, a fase mais difícil dura algumas semanas e os sentimentos são amenizados em alguns meses. Seja como for, respeite o seu período de sentir aquela perda e procure suporte profissional caso perceba uma maior dificuldade.

Como fazer uma homenagem à vó falecida?

O luto vó, frequentemente, traz à tona o desejo de homenagear a matriarca de alguma maneira. Isso pode acontecer como uma maneira de processar melhor o luto, aceitando o que aconteceu. Mas também para lembrar com carinho de alguma situação, hábito ou questão.

Por exemplo, existem famílias que optam por criar um tipo de altar de lembranças. Em uma mesinha, em cima da lareira ou outro local, colocam fotos, velas, imagens ou um item pessoal da avó.

Outras optam por escrever na parede ou quadro uma frase/palavra que ela sempre dizia, pendurar bordados/desenhos que ela mesma fazia, etc.

Gastronomicamente pensando, vocês também podem combinar se sempre se reunir na data da matriarca, seja um feriado/evento ou outro dia importante, e preparar comidas que ela sempre fazia, coisas que ela gostava de comer e passar todos juntos.

Entretanto, alguns preferem homenagens mais próximas e até individuais. Como colocar uma foto da matriarca na carteira, tatuar algo relacionado a avó no corpo e assim por diante.

Sendo assim, a escolha da homenagem depende de como se sente em relação a essa perda e quais são as possibilidades que possui naquele instante ou futuramente. O ideal é sempre pensar com calma e considerar as opções.

Avó: descanse em paz

A saudade no coração que se tem pela perda da vovó é algo que irá permanecer, mas que irão trazer lembranças boas, porque o que fica é o amor, os ensinamentos, as frases que ela dizia, as histórias que contava, a imagem dela e apesar da sua partida sempre haverão recordações. A falta irá existir só que ao poucos se abrirá um novo mundo em que ela estará sempre no seu coração.

O que dizer para confortar uma pessoa?

Processar o luto vó é individual, ou seja, qualquer perda não pode ser compreendida totalmente por outra pessoa. Isso acontece porque cada indivíduo tem um contato único com outro, compartilha experiências e questões e sente/vive de uma maneira.

Entretanto, podemos entender como essa perda é dolorosa. Assim, ninguém quer ouvir que “vai passar”, “ela está em um lugar melhor” ou que “ela não gostaria de ver você triste assim”. Essas falas fazem parte do senso comum e, muitas vezes, causam ainda mais tristeza e culpa no indivíduo.

Assim, você deve dizer que aquela dor é válida e merece ser sentida, que tudo bem sentir-se triste e às vezes incapaz de fazer determinadas coisas. Mas também diga que você está ali caso o outro precise de alguma coisa.

Na maioria das vezes, o diferencial não está naquilo que você fala para confortar o outro, mas em como se comporta. Como demonstrar que está ali e se importar com os reais sentimentos vinculados a esse luto.

Em alguns casos, você pode confortar de outras maneiras, como incentivando o outro a fazer alguma homenagem, a falar sobre a matriarca e até na rotina.

Luto Vó

Por exemplo, alguns ficam tão perdidos quando perdem alguém que não conseguem lidar com os afazeres de casa. Tendo dificuldade para cozinhar, limpar ou organizar coisas. Se tem filhos, isso fica ainda mais difícil, já que há mais tarefas a serem feitas, bem como a preocupação quanto ao luto dos pequenos. Logo, você pode ajudar nessas coisas do cotidiano.

Seja levando as crianças para algum lugar por algumas horas, para que o indivíduo descanse e fique um pouco sozinho. Mas também levando pratos ou ajudando na cozinha, conversando enquanto auxilia com as coisas que estão sendo feitas, etc.

É importante que, caso note que o luto é um problema maior, incentive esse ente a procurar suporte psicológico. Nesses casos, quanto antes o cuidado mental for iniciado, menor serão os danos a longo prazo.

Felipe Laccelva

Felipe Laccelva

Psicólogo formado há mais de dez anos, fundador e CEO da Fepo. Fascinado pela Abordagem Centrada na Pessoa, que tem a empatia como eixo central para transformar o ser humano. Sempre buscou levar a psicologia para mais pessoas e dessa forma criar um mundo mais saudável e acolhedor.

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