A solitude é um assunto bastante midiático, ou seja, existem confusões sobre o real significado do termo, como ele funciona na rotina, bem como uma expectativa irreal sobre o tema. Já que muitos consideram tudo é solidão e, como resultado, é sempre alto negativo.
Nesta perspectiva, é interessante entender melhor o que é isso e a importância desse tema para a sua vida, garantindo maior estabilidade mental e emocional, evitando complicações psicológicas e elevando as possibilidades do seu futuro.
Vamos lá!
O que é solitude?
Primeiramente, a palavra solitude vem diretamente do latim, sendo traduzida como “solidão” ou “retiro”. Talvez, por essa primeira tradução, que tantos erros de compreensão aconteçam.
Entretanto, estudiosos apontam que a ideia era ainda mais ampla antes de a palavra ser traduzida. Segundo Paul J.O. Tillich, um importante teólogo e filósofo da religião, a origem do termo seria algo como “a glória em estar sozinho”.
Assim, é essa perspectiva de glória que deve ser considerada aqui.
Mas, para tornar a sua vida um pouco mais simples e também para não complicar demais um assunto que já é falado de forma distinta, vamos a um conceito básico.
Então, solitude é o ato de ficar sozinho por uma vontade própria, um isolamento voluntário sem que isso incomode ou que seja acompanhada de uma sensação de vazio.
Na prática, é querer estar sozinho e se sentir bem com isso, sem entrar em contato ou ter a companhia de outras pessoas.
A ideia é que você seja capaz de ter um “retiro” em si mesmo, de forma planejada, desejada e escolhida de forma consciente.
Inclusive, a solitude não se refere exatamente a uma questão unicamente geográfica, mas a algo mais pessoal. Então, o espaço seria apenas um meio de alcançar este objetivo.
Ficou um pouco confuso? Vamos voltar um pouco então e explicar tudo através de um exemplo.
Imagine que você sente uma necessidade de calmaria, de ficar em silêncio, de tranquilizar a própria mente, pensar com mais clareza ou mesmo de descansar do “restante do mundo”.
E, se você não consegue ter esses momentos, é essencial procurar entender o porquê disso. Aqui, podemos te ajudar neste processo para elevar o seu autoconhecimento e habilidades.
Esse desejo de estar só é a solitude.
Para alcançar esse objetivo, o mais comum é que os indivíduos escolham locais onde não há outras pessoas. Como ficar em casa um fim de semana todo, sem visitas e usando minimamente qualquer meio de comunicação.
Ao mesmo tempo, a solitude pode ocorrer de forma interna, mesmo que você esteja em meio a muitas pessoas. Como um momento de quietude e reflexão.
Mas afinal, o que podemos dizer sobre isso?
Falando em aspectos psicológicos, a solitude é a capacidade e desejo de estar só de maneira positiva. Ou seja, não gera sentimentos de vazio, abandono ou tristeza.
Mas, para que esse sentimento seja possível, é essencial que você tenha uma qualidade de sustentação emocional, bem como ter aprendido sobre isso culturalmente, durante o seu desenvolvimento.
Inclusive, essa capacidade (ou a falta dela) de ficar só e bem, pode ser notada em todas as etapas da vida, sob diferentes perspectivas.
Por exemplo, muitas crianças aprendem sobre isso desde cedo e desenvolvem a capacidade de brincarem sozinhas e em grupos com qualidade, desenvolvendo diversas ferramentas, que serão usadas ao longo da vida.
Mas também podemos notar indivíduos que não desenvolveram isso e, quando adolescentes, sentem-se completamente abandonadas e, para evitar esse sentimento, passam a fazer parte de grupos, como se precisassem continuamente de um “suporte”.
Além disso, é importante destacar que a solitude e o coletivo são importantes para o ser humano. Sendo necessário uma busca por equilíbrio.
Então, o estar só e bem, bem como o viver em grupo em harmonia, impactam na saúde física, mental, emocional e no funcionamento geral do indivíduo.
Solitude x solidão
Pensando na compreensão sobre os diferentes termos que existem, solitude é diferente de solidão, são erroneamente usados como sinônimos. Então, vamos acabar com isso agora:
Solitude é o viver/estar sozinho por opção, o querer esses momentos e estar bem psiquicamente em relação a isso.
Em alguns casos, a solitude é imposta, como nos casos de grupos marginalizados, afastados da sociedade, mas não há o sentimento de abandono.
Por outro lado, a solidão é quando o isolamento ocorre de forma involuntária, sem que você queira estar só, acompanhado de um sentimento de vazio, abandono e tristeza, causando sofrimento emocional/psíquico.
Mas por que esses temas são continuamente confundidos?
Uma maneira de entender tudo isso é considerando o aspecto cultural sobre o estar sozinho. Bastante ver como os seres humanos estão sempre em grupos, buscando pessoas para viver e compartilhar experiências.
Conforme Fabiano Moulin, neurologista da Unifesp, podemos ir um pouco além, considerando como o isolamento involuntário é nocivo para o cérebro, entendido e dado como castigo. Não à toa, há estudos neuropsicológicos sobre o tema.
No cárcere, por exemplo, isso fica ainda mais evidente, sendo que um dos locais mais temidos pela maioria dos presidiários é a “solitária”.
Ao mesmo tempo, há uma percepção de que as pessoas devem estar em contato com outras, sendo associado a felicidade.
Basta pensar em jargões comuns como o “ficar para titia”, para mulheres que demoram para encontrar um “companheiro para dividir a vida”.
Assim, pessoas que ficam sozinhas e gostam disso, mesmo que falem sobre solitude, são ditas como infelizes e solitárias.
A importância do estar só (e bem com isso)
Se você faz parte do grupo de pessoas que não encontra 10 minutos diários para ficar sozinho, ou acredita que isso é um problema, é importante entender como isso pode afetar a sua vida.
Além disso, na época altamente tecnológica na qual estamos, todos os momentos de “descanso”, como os intervalos, são usados para ficar mexendo nas redes sociais, joguinho e mais. Ou seja, a solitude é quase completamente eliminada.
Esses comportamentos são prejudiciais porque impedem o desenvolvimento de habilidade socioemocionais e até mesmo da inteligência emocional.
Ao mesmo tempo, impede que você conheça e aprecie a si mesmo, impede que se conheça de verdade e contribui para que acredite unicamente no que os outros dizem de você.
No cotidiano, isso reflete na sua saúde mental e física.
Portanto, a falta desse tempo impede que você defina o que realmente quer, quais são os desafios que vai enfrentar e como fazer isso, aquilo que realmente vale a pena, projetos de vida e reflexões importantes sobre espaços e pessoas.
Mais importante que isso, a solitude impede que você acabe em meio a problemas que poderiam ser evitados, unicamente por esse desejo de ser parte de um grupo que realmente não é o seu.
Imagine, por exemplo, quando adolescentes e adultos tomam decisões ruins para “acompanhar amigos”, ficando a mercê da própria sorte, sem serem capazes de escolher de forma consciente, avaliando se realmente querem fazer aquilo.
Logo, a solitude estabiliza a sua mente, traz equilíbrio, constrói autoconfiança e impede que você se baseie unicamente no que terceiros dizem, mas que saiba se autoavaliar ou avaliar situações e pessoas por “conta própria”.
Solitude e Inteligência Emocional
A inteligência emocional é definida como a sua “capacidade em identificar e lidar com sentimentos e emoções”. Sejam as suas ou dos demais.
Um exemplo simples e divertido é observar alguns personagens da TV, como Sheldon Cooper de The Big Bang Theory. Na série, com destaque para a primeira temporada, vemos que o personagem não possui nenhuma inteligência emocional (e pouca funcionalidade social).
Justamente por isso, a sua vida em sociedade é limitada a seus três amigos e sua mãe, que o entendem e o aceitam daquela maneira, mesmo que a convivência seja difícil.
Ao longo das próximas temporadas e, principalmente pelo contato com outra personagem, Penny, Sheldon passa a entender melhor como as outras pessoas funcionam, sendo ela um elo importante na vida de todos ali, que seguem o estereótipo de “nerds desajustados”.
Inclusive, podemos observar como a falta de inteligência emocional dificulta a interação com outros profissionais, mesmo que ele seja extremamente inteligente, prejudica sua vida pessoal e profissional, limita suas atividades e causa sofrimento psíquico.
Dessa forma, essa habilidade permite refletir sobre o que sente e como aquilo te afeta, o que fazer a respeito e como melhorar ou impedir que prejudique todo o seu dia.
Imagine, por exemplo, que você está superchateado com uma situação que ocorreu no seu núcleo familiar. Mas, mesmo assim, precisa ir trabalhar, cumprir com usas obrigações, sair com o pet e mais, tudo com o máximo de qualidade.
Sem inteligência emocional, você acaba fazendo tudo “de qualquer jeito”, sem vontade, pela metade, comete erros e fica procrastinando ao máximo.
Mas como a solitude auxilia nesse processo?
Ao ficar sozinho, apenas consigo mesmo, você passa a pensar em coisas diversas e consegue desenvolver uma linha de raciocínio.
Logo, você passa a não depender dos outros para validar a si mesmo, toma decisões de forma consciente, desenvolve o hábito de pensar/avaliar situações e evita a impulsividade, desistências e baixa autoconfiança.
Apenas o processo de ficar sozinho por escolha, não sentindo que está vazio ou abandonado por isso, traz mais autoconhecimento e impulsiona o seu desenvolvimento.
Como aprender sobre solitude
Por fim, cabe destacar que a solitude é uma escolha e, portanto, cabe a você definir quando é importante fazer isso e como escolher sabiamente o meio para se desvencilhar das pessoas e sociedade.
Mas, se você tem dificuldade para fazer isso ou mesmo para fazer coisas sozinho, como ir a um bom restaurante, comprar coisas pessoais, assistir a um filme, é melhor começar a prestar mais atenção aos seus comportamentos.
No geral, a solitude só não é recomendada quando há algum sentimento de solidão grave associada a ela, como transtornos de humor. Neste caso, a solitude não é compreendida como algo positivo e pode agravar os sintomas.
Então, é essencial que você tenha um suporte psicológico adequado, para entender o que está acontecendo e desenvolver meios de se recuperar.
Assim, algumas dicas são:
Entenda por que você não gosta de ficar sozinho
A confusão entre solitude e solidão pode fazer com que algumas pessoas tenham medo desses momentos e acabem sempre cercando-se de pessoas.
Sabendo que são coisas diferentes, a questão é: por que você não quer ficar sozinho?
Entender isso é o primeiro passo para desmistificar a ideia de estar só e ver os benefícios dessa ação.
Cabe destacar que isso não significa ficar sozinho o tempo todo, mas escolher momentos para tal e, no mais, continuar suas interações comuns do dia.
Escolha o melhor momento de solitude
A solitude acontece quando você escolher ficar só, ou seja, é algo consciente e intencional.
Por isso, é essencial escolher quando quer fazer isso, principalmente se você tem uma rotina muito cheia, convive com muitas pessoas ou tem filhos, conjugue e mais núcleos familiares.
Muitos encontram no banho o melhor momento para relaxar, curtir a própria companhia e ficar no silêncio. Outros optam por fazer isso antes de dormir, tirar algumas horas após o almoço/jantar e há aqueles que preferem aproveitar o dia de folga ou o final de semana.
Descubra coisas que você realmente gosta de fazer
O momento de solitude pode ser aproveitado de diversas maneiras:
- Ouvindo música, podcasts ou livros;
- Lendo, qualquer tipo de coisa;
- Meditando;
- Cozinhando;
- Assistindo filmes e/ou vídeos;
- Comendo em algum lugar;
- Visitando lugares, como cinemas, museus e parques, etc.
Ou seja, você pode apreciar esse momento fazendo coisas que realmente ama, mas sem depender da presença de terceiros. Não à toa, traz uma sensação de amplitude, confiança, amor-próprio e paz.
Sendo assim, teste esses momentos, descubra o que gosta de fazer e evita utilizar as redes sociais ou mesmo o celular, apenas aproveite esse instante e a sua própria companhia.
Uma dica interessante é que muitas pessoas aproveitam esse momento para fazer coisas que não consegue ou não querem fazer quando outros estão por perto. Seja por eles interferirem na atividade, por quererem fazer diferente ou mesmo porque não querem seguir suas ideias.
Por exemplo, há casais que se sentam para ler, cada um em um canto do sofá, e passam horas ali. Mas há outros (ou apenas um deles) que não é capaz de ficar 5 minutos dessa forma.
Importante: se você apresenta sintomas de depressão e ideias suicidas, mesmo que de forma indireta, procure ajuda o quanto antes, começando com o Centro de Valorização da Vida. A ligação no 188 é gratuita e funciona 24 horas por dia.
Enfim, para saber mais sobre psicologia, autocuidado ou mesmo para ter os melhores psicológicos para atendimento clínico online, conheça a Fepo e já confira nosso blog.