Ritalina – Um dos fármacos mais controversos

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A Ritalina é um medicamento farmacoterapêutico/psicoestimulante que atua no sistema nervoso central, bem como nas ações motoras. Entretanto, a maioria das informações que são divulgadas sobre os comprimidos não estão relacionadas a sua composição.

Na prática, é uma droga controversa que já foi elogiada e criticada por milhares de pessoas, mas que tem um peso significativo na área médica desde o seu surgimento em 1950. Aqui no Brasil, apenas em 1998.

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Dessa forma, é válido considerar quais são as características que envolvem essa medicação, porque muitos a chamam de “droga dos concurseiros”, e quem realmente deveria ingerir.

Isso tudo considerando uma série de especificidades que sempre devem ser analisadas por profissionais competentes e qualificados.

O impulso da Guerra Fria no uso da medicação

Ao pesquisar sobra qualquer tipo de medicação, é provável que você descubra que o surgimento quase nunca se deu “ao acaso”. Ou seja, existia uma busca por aquele resultado.

Diante disso, fica evidente a necessidade de se ater aos prós e contras dos remédios, principalmente os mais antigos. Afinal, mesmo com um longo histórico, continuam no mercado.

No caso da Ritalina, podemos falar um pouco sobre o sistemas escolar dos Estados Unidos, bem como a competição do país com a União Soviética na época da Guerra Fria.

Os anos eram difíceis e muito era exigido de cada indivíduo.

Logo, a história mostra uma corrida cientifica e espacial onde a educação se tornou a base de tudo. Logo, era necessário que o aprender fosse mais rápido e efetivo. Para isso, não existia espaço para brincadeiras.

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Claro que o italiano Leandro Panizzon, que sintetizou a droga, não considerou o uso por crianças. Entretanto, a medicação se tornou uma solução “incrível” para pais e psiquiatras que não conseguiam controlar as crianças hiperativas.

A título de curiosidade, o nome do remédio foi uma homenagem a Rita, apelido de Margarida. Segundo Leandro, ela tomava o remédio antes do tênis e isso lhe dava um “empurrão”.

Na época da Guerra Fria (e outra guerras), aumentava a busca por remédios que resolvessem todos os problemas, o que impulsionava a farmácia e aumentava rapidamente os lucros.

Ao longo dos anos, muitos avanços aconteceram no mercado e doenças importantes começaram a ser tratadas, como a tuberculose. Além da vacinação contra a pólio.

O teste das anfetaminas

Poucos sabem, mas a história dos testes não é algo novo. Além de ser pouco atraente. Principalmente se consideramos todas as normas que temos atualmente para evitar problemas jurídicos ou mesmo a perda de pacientes ou danos a longo prazo.

Mas, lá em 1937, um psiquiatra chamado Charles Bradley fez um experimento curioso.

Em resumo, administrou anfetaminas em um grupo específico de crianças como tratamento para dores de cabeça. Naquela época, a visão sobre essas drogas era bem diferente de hoje.

Os pequenos tiveram um efeito incrível na concentração.  E muitos ensaios clínicos surgiram posteriormente. Inclusive, um em 1964 com a Ritalina para tratar crianças que tinham “transtornos emocionais”.

Esse estudo mensurava a concentração, ansiedade e impulsividade. O resultado foi positivo e uma comoção se virou a favor do remédio. Rapidamente, a Ritalina foi vista como uma solução para o sistema de ensino.

Para que serve Ritalina?

Primeiramente, por que é importante falarmos sobre tudo isso antes de chegarmos a serventia do remédio? Porque há controvérsias importantes quanto ao uso atual.

Logo, a principal indicação é em casos de diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH.

Em alguns casos bastante específicos, também é recomendada para pacientes com quadro de obesidade e narcolepsia. Mas existem várias restrições quanto a isso.

Ao mesmo tempo, cabe destacar que, por ser uma droga psicoestimulante, é indispensável um acompanhamento psiquiátrico e terapêutico aliado a ingestão.

Por fim, essa droga também é usada para potencializar o efeito de outros medicamentos antidepressivos. Geralmente em casos em que o primeiro remédio não resolve totalmente a falta de ânimo e energia.

Porém, nem todos os profissionais indicam o uso. Cida Moysés, por exemplo, disse em entrevista a Unicamp que nem em casos de TDAH vê o remédio como uma opção. Salvo casos raros em que todas as outras medidas não surtiram efeito.

O que a Ritalina faz no corpo?

Para entender como essa medicação age no corpo, é válido considerar a composição. E assim chegamos à questão e nome científico: metilfenidato.

Na prática, o metilfenidato age potencializando a ação da dopamina e noradrenalina, dois neurotransmissores.

Logo, atua no sistema nervoso central como um estimulante, provocando um aumento na atenção, concentração e foco. Por isso, também vai interferir no estado de vigília.

Psicologicamente, essa vigília é essencial para os seres humanos, sendo um estado da consciência.

Quando esse estado está “ativado” de maneira normal, você fica super concentração e percebe a realidade do ambiente. Por exemplo, é natural ficar em vigília quando estamos estudando ou seguindo um caminho novo, bem como em perigo.

Mas, quando não está nesse estado, o corpo e a mente relaxam. É assim que o ser humano é capaz de dormir e descansar de forma adequada.

Por isso, a sensação é de euforia e energia, como se você ligasse um interruptor interno.

Nos pacientes com TDAH, o remédio vai auxiliar na aquietação para que o indivíduo seja capaz de se concentrar e manter o foco na rotina.

 É perigoso tomar Ritalina?

Um dos principais problemas da Ritalina não está na indicação, quando realmente existe um quadro, estudo e acompanhamento daquele que consome o remédio.

O problema é que muitos começaram a usar de forma indiscriminada, sem nenhum quadro ou diagnóstico de TDAH. Por isso ficou conhecida como a “droga dos concurseiros” e até como “pílula da inteligência”.

Em síntese, a ideia é que, se o remédio é capaz de melhorar a atenção e foco, impulsionando a concentração, traria resultados positivos para quem estuda ou trabalha. Afinal, imagine ficar hiper focado naquele assunto que até uma parede branca é mais interessante?

Inclusive, foi realizado um teste com jovens na Unifesp. Esses passaram por testes antes e após o consumo, conforme normas de dosagem e placebo.

Segundo os resultados, os desempenhos foram semelhantes (usando ou não a droga).

E o que isso diz sobre a Ritalina? Que sua ação se dá em cérebros que apresentem alterações, e não em cérebros saudáveis.

Mas então, porque seria perigoso tomar Ritalina?

Em síntese, a medicação é fabricada para atuar naquelas pessoas que possuem uma alteração nos neurotransmissores.

Portanto, se você não tem essa carência, é natural que o corpo tente se defender daquela ação para voltar à normalidade, regulando a quantidade de dopamina e noradrenalina.

Então, o efeito é semelhante ao uso de drogas: aumenta a quantidade dessas substâncias fazendo o cérebro reduzir a produção. Elevando as chances de dependência. Por isso a Ritalina é da classe “tarja preta”. Uma forma de tentar dificultar o acesso. 

Outros problemas

Alguns estudos mostram que a Ritalina também apresenta desafios a longo prazo.

Isso porque, os usuários podem apresentar um quadro de dependência, alterações na sensação de fome (levando a sobrepeso ou magreza), pressão alta e distúrbios do sono.

Como todo medicamento, também possui possíveis efeitos colaterais, dentre eles:

  • Agitação excessiva;
  • Aumento na ansiedade;
  • Alterações no humor e agressividade;
  • Redução no apetite;
  • Tremores;
  • Dores de cabeça;
  • Boca seca, etc.

Além disso, existe o efeito rebote em pacientes que não possuem quadro de TDAH e tomam o remédio.

Nesses casos, o consumo causa a alteração na produção de neurotransmissores e, ao parar de tomar, sentem o humor alterado (tristeza e raiva), falta de energia e ânimo ou sintomas semelhantes ao de dependentes químicos. Como aqueles que usavam cocaína.

Quem deve tomar Ritalina?

Assim como qualquer outro medicamento, a Ritalina exige cuidado e atenção, principalmente quando administrada em crianças e adolescentes.

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Pensando nisso, quem deve tomar o fármaco são aqueles que realmente precisa da alteração cerebral decorrente de algum distúrbio neurológico. Neste aspecto, é indispensável um diagnóstico completo.

Dessa forma, é mais utilizado em casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o que engloba um grande número de crianças. Geralmente, os sinais que são alterados no início incluem o rendimento escolar, impulsividade, desatenção e inquietação.

Mas atenção: quaisquer indivíduos que não tenham um diagnóstico ou a recomendação de um profissional, não devem ingerir nenhum tipo de medicação psicoestimulante.

A dosagem e forma de consumo varia de acordo com o paciente, principalmente considerando possíveis sintomas posteriores que possam aparecer.

Então, converse com o seu  médico diante de qualquer dúvida e siga todas as recomendações.

Quem não pode tomar?

A Ritalina não é uma opção para aqueles que são alérgicos a composição, tem tensão ou ansiedade, bem como apresentam problemas na tireoide.

Pacientes com problemas cardíacos, pressão ocular aumentada, síndrome de Tourette, hipertensão e outros casos também não devem consumir esse remédio.

Nesses casos, cabe um estudo diagnóstico para saber como proceder e quais cuidados ter.

Reações adversas

As reações adversas podem surgir em qualquer paciente, não sendo restrita a esse medicamento. Mas, no caso da Ritalina, as mais comuns incluem:

  • Coriza e/ou dor de garganta/
  • Nervosismo;
  • Redução do apetite;
  • Insônia;
  • Boca seca;
  • Náuseas.

Mas existem diversas reações possíveis que, geralmente, se apresentam menos de 10% dos casos. Como humor deprimido, agressividade, bruxismo, alterações na pressão, etc.

Em qualquer um dos casos, converse com o seu médico.

Superdosagem: o que fazer?

A superdosagem acontece quando uma quantidade superior ao recomendado pelo médico é ingerida. Ou seja, se a indicação for de 1 comprido ao dia, 2 já é uma superdosagem, já que se refere ao dobro do ideal.

Em todo caso, existem diversas situações nas quais isso pode ocorrer. Por exemplo, se você está se adaptando a uma nova recomendação.

Suponha que seu médico havia receitado dois comprimidos por dia, mas os efeitos estavam dificultando a rotina e então mudou para um comprimido. Nos primeiros dias, você pode acabar confundindo isso tudo.

Nesses casos, os maiores efeitos costumam incluir insônia, tremores e dores de cabeça. Mas não é um quadro excessivamente grave. Ainda que seja indicado conversar com o seu médico.

Entretanto, se ocorrer a ingestão de mais comprimidos, o ideal é ir até uma unidade de saúde e conversar com a equipe responsável, solicitando uma assistência médica.

Quando são ingeridos muitos comprimidos, os efeitos incluem agitação excessiva, cefaleias, tremores nas mãos e pés, espasmos musculares, batimento irregular, excesso de suor e febre.

Também é comum a dilatação das pupilas, dificuldade em respirar de forma ritmada, confusão mental, letargia, febre, etc. Em casos mais graves, ocorrem convulsões.

Por isso, se você encontrar alguém que tenha ingerido muitos comprimidos, chame um suporte médico o quanto antes e mantenha o indivíduo em posição lateral (de lado).

O desafio da dualidade farmacológica

Ao pesquisar sobre a Ritalina na internet, você vai encontrar vários cenários. Alguns dizem que é a “salvação” e outros que é a “destruição” da humanidade.

Inicialmente, essa crítica demasiada surgiu por uma falta de compreensão do assunto. Quando pessoas não qualificadas começaram a diagnosticar terceiros, indicar e até medicar outros sem qualquer cuidado.

Ao mesmo tempo, o consumo por pessoas sem qualquer real necessidade, mostrou uma faceta problemática do fármaco. Como todos os efeitos que surgem com a parada do consumo e a dependência.

Entretanto, a realidade é que existe muito mais aspectos relevantes entre essas duas “pontas da corda”. Por um lado, é caracterizada como narcótico, por outro, trouxe benefícios a milhares de pessoas.

Além disso, existe a problemática quanto ao ensino, educação e atualidade.

Basicamente, as crianças não são como há 50 anos. Estão mais desafiadoras, questionam e não se contentam com um “é assim e ponto”. A maioria tem muita criatividade e energia, não se submetem facilmente as regras. Isso tudo não se adapta ao modelo tradicional de ensino, onde é preciso ficar 7 horas sentado, em silêncio.

Logo, cada caso é um e precisa ser avaliado em sua individualidade, sem considerar unicamente achismos ou questões “fabricadas”.

E como fazer isso?

Tudo começa com um atendimento terapêutico de qualidade, voltado para o paciente e necessidades dele. Não basta dizer que ele é hiperativo ou que “não fica quieto”.

Se faz necessário entender quando isso acontece, se é o tempo todo ou em ambientes específicos, o quanto aqueles que “diagnosticam” realmente estão preparados para observar sinais e assim por diante.

Enfim, cabe aos pais e responsáveis, ou mesmo a escola e outros interessados, direcionar melhor o atendimento terapêutico. Procure profissionais preparados para entender o que está acontecendo e então pensar em soluções eficazes. Sejam crianças, adolescentes ou adultos.

Mesmo com prescrição médica pode ocorrer efeitos colaterais no sistema nervoso central

É fundamental o acompanhamento médico, até mesmo porque é necessário receita médica para compra já que o princípio ativo tem distribuição controlada, como ocorre em São Paulo. Estes produtos apesar das ofertas só devem ser utilizados para tratamento dentro de uma categoria restrita de doenças, devido aos riscos de dependência física e dependência química.

Felipe Laccelva

Felipe Laccelva

Psicólogo formado há mais de dez anos, fundador e CEO da Fepo. Fascinado pela Abordagem Centrada na Pessoa, que tem a empatia como eixo central para transformar o ser humano. Sempre buscou levar a psicologia para mais pessoas e dessa forma criar um mundo mais saudável e acolhedor.

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