Como a psicologia ajuda nos transtornos alimentares?

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Os transtornos alimentares se caracterizam pela preocupação excessiva em relação a imagem/peso, geralmente associado a outros fatores, como atividade física, fome/comida, aceitação e assim por diante.

Entretanto, é uma doença psicológica que nem sempre é diagnosticada rapidamente, já que pode assumir diferentes formas e impactar a vida de forma silenciosa, causando um enorme sofrimento físico e mental.

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Vale destacar que esse tipo de condição pode afetar qualquer indivíduo, independentemente da idade ou gênero.

A partir disso, separamos aqui as principais informações que você precisa saber sobre esta condição e como pode dar o primeiro passo para buscar a ajuda que você precisa ou fornecer o apoio para aquela pessoa querida. Confira!

O que é transtorno alimentar?

A princípio, cabe entender que um transtorno alimentar é uma doença, ou seja, não se trata de uma fase que “vai passar” ou de algo bom, uma visão que pode trazer muitos problemas.

Da mesma maneira, essa é uma desordem capaz de levar o paciente a morte quando não tratada corretamente.

Diante disso, um transtorno alimentar é uma doença que envolve e altera a alimentação, causando irregularidades, sofrimentos e preocupação excessiva com o corpo, seja apenas com a imagem corporal, peso ou ambos.

Justamente por isso, é essencial buscar tratamento psicológico, já que é uma desordem capaz de afetar a maneira como vê e entende as coisas.

No geral, existem alguns sintomas clássicos que podem auxiliar na identificação do problema, sendo eles:

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  • Alterações repentinas no peso;
  • Restrição alimentar grave;
  • Isolamento social;
  • Baixo nível de atenção e concentração;
  • Redução nas interações e perda do desejo sexual;
  • Ansiedade e/ou depressão;
  • Irritabilidade ou alterações no humor, principalmente se questionado sobre o assunto;
  • Alterações bruscas na rotina;
  • Parada de alimentação em grupo;
  • Sonolência, etc.

Principais variações do transtorno

Dentro do transtorno alimentar, existem diferentes subtipos, cada qual com características únicas e debilitantes. Mas, os principais são:

Anorexia:

É necessário traçar uma diferença entre anorexia e bulimia, já que ambas estão relacionadas a perda de peso e são tipos de transtornos alimentares e estão relacionadas a comportamentos compensatórios e procuram combater uma imagem que a pessoa tem de que está “acima do peso” podem estar prejudicando gravemente a saúde mental.

A anorexia é marcada pela distorção da própria imagem e acompanhada por um medo excessivo.

Em outras palavras, o paciente tem medo de engordar e sempre se vê mais gordo do que realmente é, encontrando excessos em praticamente todas as regiões do corpo, desde o abdômen até nos pés.

Neste caso, há um baixo peso corporal e limitação de tudo o que é ingerido, muitas vezes acompanhado de atividade física para “queimar” as calorias consumidas.

Bulimia é:

Ao contrário da anorexia, onde há a limitação do consumo, na bulimia nervosa o paciente apresenta episódios de consumo excessivo de comida acompanhado por alguma forma de eliminar tudo aquilo.

Essa eliminação pode ocorrer através da indução ao vômito, uso de laxantes, diuréticos, jejuns, atividades físicas em excesso ou a combinação de vários desses citados.

Vale dizer que esse quadro é acompanhado de uma série de emoções: primeiro a compensação por comer e depois a culpa por ter comido, acompanhado de uma forte necessidade de parar e compensar tudo o que fez, como se fosse uma maldade.

Comer compulsivo:

O comer compulsivo, ou transtorno de compulsão alimentar, é quando, mesmo sem fome, o indivíduo consome uma enorme quantidade de calorias em um curto período de tempo.

Neste cenário, é comum que a comida seja usada como uma fuga, um escape da realidade, ou mesmo para evitar pensamentos negativos, discussões ou coisas desagradáveis, mesmo as mais simples e rotineiras.

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Durante o ato de comer, o sujeito sente um enorme prazer, mas é comum que depois se sinta culpado, com nojo e/ou pena de si mesmo e desenvolva uma auto aversão.

Diferentemente dos outros dois transtornos alimentares, aqui é comum que o paciente tenha um quadro de sobrepeso ou obesidade.

Ortorexia:

A ortorexia é uma condição que pode ser vista de forma errada por muitos, principalmente com o crescimento na busca por uma alimentação saudável.

Então, é preciso ter um pouco de cautela para entender esse transtorno.

Na prática, essa condição destaca uma obsessão com a qualidade dos alimentos, não focando na quantidade. O principal problema é que isso cria um padrão de atenção excessiva, fazendo com que a alimentação se torne restritiva e pobre.

Em alguns casos, os pacientes também excluem alimentos “errados” por considerarem o uso de alguns fertilizantes, segundo eles incorretos, ou mesmo decorrente do formato de cultivo.

Oficialmente, essa condição não é classificada como um transtorno alimentar, mas serve de alerta, sendo um sintoma que pode indicar que é preciso ter maior atenção.

Por isso, se perceber esse sintoma, procure um profissional capacitado para combater e evitar uma progressão do quadro.

Fatores de risco

A realidade dos transtornos alimentares é que estes podem surgir em qualquer indivíduo, sem qualquer tipo de exclusão. Ou seja, não depende da idade, gênero, etnia, formação, etc.

Durante a pandemia do Covid-19, por exemplo, uma pesquisa divulgada no International Journal of Eating Disorders mostrou um crescimento nas internações de 48%.

Mas também é evidente que alguns públicos parecem ser mais susceptíveis, sendo eles as mulheres, bem como a faixa de pessoas na puberdade. Além disso, tem crescido o número de pacientes mais novos, inclusive a partir dos 5/6 anos.

Dessa forma, alguns fatores de risco incluem:

  • Eventos traumáticos, como mortes, doenças e acidentes;
  • Padrões de beleza e influências sociais em geral, mesmo através da mídia ou do núcleo familiar;
  • Histórico familiar;
  • Baixa autoestima;
  • Problemas com alimentação em geral, como seletividade;
  • Bullying, etc.

É importante destacar que os fatores podem ser sociais, genéticos e/ou ambientais, elevando as chances de desenvolvimento do transtorno. Ao mesmo tempo, é notável que algumas características pessoais podem elevar as chances de desencadear o transtorno, como perfeccionismo ou TOC.

Por outro lado, cada indivíduo é único, sendo que esses fatores podem influenciar de diversas maneiras. Logo, cada caso deve ser avaliado à fim de chegar a um diagnóstico e meio de tratamento mais eficaz.

Aspectos culturais dos transtornos

Nem sempre a ideia de que uma doença está associada a sociedade é algo aceito por alguns, visto que estes consideram que cada um “faz suas próprias escolhas”. Mas a realidade é que o ambiente cultural influencia em quem somos.

Para comprovar isso, basta observar como as sociedades mudaram ao longo do tempo, conforme novas descobertas e crenças eram incorporadas ao sistema.

Assim, sabemos que os aspectos culturais têm um impacto importante no aparecimento dos transtornos alimentares, e muitas pesquisas comprovam isso.

Na prática, existem ideais que são incentivados como sendo o “correto”, principalmente pelas mídias.

Por exemplo, é comum ver corpos super magros nas capas de revistas, posts das redes sociais e nas passarelas, um corpo que não é facilmente alcançável de forma natural.

Da mesma maneira, temos diversos movimentos que envolvem a hábitos alimentares, atividades físicas e hábitos comportamentais disfuncionais, como os longos jejuns, compulsão, uso de medicamentos sem orientação médica, etc.

Junto a isso, há os medos e incertezas de cada indivíduo, a busca por aceitação, por fazer parte de um grupo e evitar tudo o que é considerado ruim, como a refeição, comentários maldosos/negativos e mais.

Inicialmente, a cultura pode afetar os sentimentos, causando desconfortos. Mas isso pode ser crescente, fazendo com que ocorra uma progressão do quadro, em uma tentativa de suprir essas emoções.

Com as redes sociais, por exemplo, elevou o número de indivíduos preocupados com a imagem, buscando a perfeição e incluindo procedimentos estéticos invasivos para tal.

Muitas vezes, isso leva pessoas a testarem diversas dietas altamente restritivas, afastam-se de pessoas que tentam dizer que eles devem ter cuidado com a alimentação, passam a praticar mais atividades físicas sem nenhum tipo de supervisão e/ou ficam longos períodos sem comer.

Uma obra interessante para se assistir é “O mínimo para viver”, com a atriz Lily Collins dando vida a personagem Ellen. O drama apresenta diversos transtornos alimentares, questões familiares, dificuldades de aceitação e até a dificuldade em entender os motivos que levaram ao desenvolvimento da doença.

Porém, existem muitas outras que falam sobre isso, como os filmes:

  • Anorexia – A ilusão da Beleza (2014);
  • Dying to Dance (2001);
  • Corpo Perfeito (1997);
  • 8 anos e anoréxica (2008);
  • Cisne Negro (2010) e muitos outros.

Já para os amantes de livros, há o “Garota em pedaços”, “A diferença invisível”, “Martina, a Bailarina”, “Confissões de uma garota linda, popular e (secretamente) infeliz”, “Garotas de vidro”, “A eterna busca pela perfeição” e mais.

Como a psicologia ajuda nos transtornos alimentares?

Diante de um transtorno alimentar, muitos acreditam que os profissionais envolvidos na recuperação seriam apenas médicos, como clínicos e nutricionistas.

Porém, a realidade é que se trata de uma doença de caráter mental. Justamente por isso, cada uma das condições possui uma definição específica no CID-10 e no DSM-5.

Ou seja, é essencial que o paciente tenha todo o suporte que precisa em todos os aspectos, para dar o primeiro passo em direção a recuperação, seguindo o melhor tratamento para o seu caso.  

Mas, para isso, é preciso que o paciente consiga entender que precisa dessa ajuda, o que requer coragem e reconhecimento do problema.

Neste cenário, o psicólogo vai te ajudar a entender o que está acontecendo, reconhecer os sinais, principalmente aqueles que antecedem uma crise, bem como para sair dos ciclos que contribuem para o quadro.

Por exemplo, inicialmente, muitas pessoas que desenvolvem um transtorno podem começar a receber elogios, por estarem emagrecendo e ficando “mais bonitas e saudáveis”. Esse tipo de fala pode reforçar o comportamento do paciente, funcionando como um estímulo.

Ao mesmo tempo, esse transtorno continua progredindo e, se antes recebia elogios, passa a ser julgado, seja por estar gordo ou magro demais, por estar parecendo doente e assim por diante, algo que aumenta a sensação de culpa.

Dessa forma, os primeiros atendimentos podem ajudar a delimitar o quanto essas opiniões influenciam nos comportamentos alimentares e como isso acontece.

Em muitos casos, esses primeiros passos podem auxiliar a entender se existe alguma disformia corporal, como ocorreu o desenvolvimento da alimentação, histórico, doenças, etc.

O que vem a seguir?

Após a identificação da condição, nem sempre o paciente entende ou mesmo aceita que possui algum transtorno, logo, é imprescindível iniciar um processo de reconhecimento.

Geralmente, os pacientes não reconhecem que possuem um problema ou mesmo que aquilo tudo que fazem é errado, pelo contrário, podem ver todos os comportamentos como um símbolo de força, resistência e poder.

Então, é comum iniciar um processo de validação e superação, o que pode envolver diferentes aspectos. Como redução das dificuldades, controle de crises ansiosas, entendimento sobre a tristeza ou mesmo porque aquele transtorno se iniciou.

Portanto, é imprescindível uma rede de apoio, que vai auxiliar na rotina, criar um ambiente estável e contribuir para o desenvolvimento do tratamento.

Psicologia nos transtornos alimentares

A psicologia nos transtornos alimentares não visa apenas a cura, ainda que este seja o tópico mais sensível. A ideia é garantir que as mudanças sejam incorporadas, mas que perdurem a longo prazo.

Por isso, o profissional vai te ajudar a:

  • Entender sentimentos, emoções e comportamentos;
  • Definir quais são os maiores problemas e como resolvê-los;
  • Definir meios mais saudáveis e equilibrados de atingir seus objetivos;
  • Entender quais objetivos são reais e possíveis ou não;
  • Desenvolver formas de cuidar melhor de si;
  • Considerar quais são suas habilidades e dificuldades;
  • Colocar boas estratégias em prática;
  • Impulsionar a autoestima;
  • Fortalecer a autoconfiança;
  • Trabalhar com a autoimagem;
  • Reduzir sintomas de inadequação;
  • Trabalhar com a ideia de culpa ou raiva.

Assim, o tratamento psicoterapêutico é indispensável para um tratamento eficaz, sendo que nem sempre o transtorno se inicia ou se desenvolve rapidamente, podendo demorar meses ou anos para chegar a uma fase crítica.

Nesses casos, as crenças em torno do transtorno são mais fortalecidas. Logo, o paciente demora mais para buscar o diagnóstico e aderir ao tratamento.

Mas acredite, há uma saída e tudo começa com o primeiro passo: a busca por um psicólogo.

Quando o transtorno exige intervenção médica?

Sendo uma patologia psiquiátrica, ou seja, uma doença mental, os transtornos alimentares podem exigir intervenção médica quando afetam a condição do indivíduo, podem levá-lo a morte.

Frequentemente, a intervenção médica é necessária quando há fatores graves associados, como:

  • Desnutrição grave;
  • Deficiência vitamínica;
  • Alterações no diabetes, colesterol e outros;
  • Baixo nível de funcionamento interno;
  • Convulsões e/ou desmaios;
  • Problemas na pele, como alergias, penugem, rachaduras, etc.

Cabe destacar que as complicações variam a partir da doença. A anorexia, por exemplo, tem mais ligação com desnutrição, desmaios, fraqueza mental e física e outros. Já a bulimia apresenta alterações nos dentes, problemas estomacais, úlceras e assim por diante.

Desse modo, são observadas as condições clínicas e psicológicas para determinar o melhor caminho a ser seguido. Em alguns casos, pode ser necessária internação clínica, para repor nutrientes e estabilizar o metabolismo, bem como para evitar o óbito, ou mesmo para tratamento psicológico/psiquiátrico, quando outros meios não surtem efeito.

Enfim, se você tem ou conhece alguém que apresenta sinais de transtornos alimentares, procure ajuda agora!

Aqui na Fepo você encontra os melhores profissionais para consultas online, onde estiver e no seu melhor horário.

Felipe Laccelva

Felipe Laccelva

Psicólogo formado há mais de dez anos, fundador e CEO da Fepo. Fascinado pela Abordagem Centrada na Pessoa, que tem a empatia como eixo central para transformar o ser humano. Sempre buscou levar a psicologia para mais pessoas e dessa forma criar um mundo mais saudável e acolhedor.

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